Terminou na segunda-feira, 29/7, a participação do Hipismo Completo nos Jogos Paris 2024, modalidade que reúne as disciplinas Adestramento, Cross-Country e Salto. Dos 65 que iniciaram a competição, 51 conjuntos concluíram a disputa. Foram 16 as equipes e o Time Brasil fechou em 12º lugar, 214.60 pontos perdidos (pp). A Grã-Bretanha foi ouro, 91,30 pp, a França, prata, 103,60, e pela primeira vez em um pódio olímpico na modalidade, o Japão arrematou bronze, 115,80. Já o alemão Michael Jung entrou para história como primeiro cavaleiro da modalidade a garantir o tri individual olímpico (confira a entrevista com o campeão ao final).
O desempenho do Time Brasil
O Time Brasil, liderado pelo técnico britânico William Fox-Pitt e a chefe de equipe Julie Purgly, foi formado por Rafael Losano montando Withington, Marcio Carvalho Jorge com Castle Howard Casanova e Carlos Parro com Safira, que na 3ª fase foi substituído por Ruy Fonseca e Ballypatrick SRS, cuja participação contou apenas para efeito de equipe. Todos os quatro conjuntos (cavalo x cavaleiro) formaram o Time Brasil, medalha de bronze por equipes no Pan-americano de Santiago 2023, ocasião em que Marcio e Castle Howard Casanova arremataram uma inédita prata individual.
Rafael Losano e Withington, melhor integrante do Time Brasil no Hipismo Completo (Luis Ruas / CBH)
Especialmente para o jovem talento Rafael Losano, 26, radicado na Inglaterra há 11 anos, a missão foi cumprida. Com Withington, de 13 anos, que está com o cavaleiro há 14 meses, Rafael conquistou a expressiva 27ª colocação: 32,30 pp no Adestramento, zero nos obstáculos do cross com 9,2 pontos por ultrapassar o tempo limite de 9min02s e 5,2 pp no Salto. A destacar que o percurso contou com 28 obstáculos, 5146 metros, à beira do Grande Canal nos Jardins do Castelo de Versailles, perante nada menos que um público em estimado em 40 mil pessoas.
"Em Tóquio tive uma situação complicada. Então foi sensacional vir aqui e cumprir as metas. O percurso está maravilhoso, a torcida, o pessoal gritando chega até arrepiar, um sentimento espetacular”, garantiu Rafael, 26, que está em sua 2ª Olimpíada. “Os melhores cavalos podem fazer uma falta. Somos um conjunto novo, é um cavalo que tem toda qualidade para saltar zero. Se alguém tivesse falado para mim no começo da semana que terminaria em 27º, eu estaria muito contente. A gente sempre quer mais, mas foi um resultado muito sólido”, destacou o cavaleiro, que agora já pensa no Mundial 2026 em Aachen, na Alemanha.
Rafael Losano com Withington no cross (Luis Ruas / CBH)
"O Withington terá 15 anos quando chegar lá. Certamente vai ter bastante maturidade e eu mais parceria com ele. A gente nunca sabe o dia de amanhã, mas acho que pode ser uma coisa muito interessante o Mundial”, observou o cavaleiro que também falou sobre o início de sua carreira na Inglaterra. “Eu vim para Inglaterra aos 17 anos, para ficar seis meses, foi oferecido esse trabalho e adorei. Eu via os cavaleiros profissionais indo pra prova todo final de semana. Adorei o estilo de vida. Tentei fazer de tudo para ser um cavaleiro profissional e viver no meio desse mundo do cavalo", afirmou Losano.
Já para Marcio Jorge, o final de semana esteve um pouco abaixo das expectativas. Marcio com Castelo Howard Casanova registrou 32,40 pp no Adestramento, teve um refugo em um obstáculo no Cross e excesso tempo, 42,40 pp, e fechou com apenas 4 pp no Salto, finalizando na 44ª colocação. "Eu tentei colocar um lance a mais no obstáculo 21 e acabei errando, mas depois conseguimos chegar bem na final", disse Marcio.
Marcio Jorge e Castle Howard Casanova (Luis Ruas / CBH)
"Foi uma faltinha na vara da saída da entrada do duplo, não vi nada errado, acho que é uma coisa que pode acontecer. Mas ele é bom de salto, é a parte mais forte dele. Estou feliz com ele", avaliou Marcio. "Acho que o meu cavalo tem um futuro promissor, é um saltador, no adestramento pode ser bom, precisa ficar um pouco mais forte, mais conectado. Ele começou a competir nesse nível no ano passado e no próximo Mundial a expectativa é boa, se Deus quiser, tudo andar bem, a gente pode ter chance de ser competitivo", finalizou o cavaleiro. "Agradeço a torcida de todo mundo, infelizmente não ocorreu tudo com a gente esperava. Competição é isso aí: um dia vai bem e outro não."
Para Carlos Parro, o Cacá, que no domingo, 28, abriu a rodada do Time Brasil com Safira, a maior a proximidade do público foi um dos fatores que influenciaram no cross. "Minha égua ficou um pouco excitada e queria avançar mais do eu queria e tive que perder um pouco de tempo trazendo ela de volta para os obstáculos. Do meio para frente ela melhorou um pouco. Acho que ela vai crescer muito com isso e será muito boa para o próximo ciclo", avaliou o cavaleiro que fechou o cross sem faltas no obstáculos com 22,40 pp por ultrapassar a faixa de tempo.
Carlos Parro com Safira (Luis Ruas / CBH)
Na final do Salto, Cacá foi substituído por Ruy Fonseca Filho e seu Ballypatrick SRS, resultado que foi válido apenas para classificação por equipes. "O Ballypatrick fez uma boa prova, nos últimos dois anos ele não havia feito uma falta no Salto. Eu gostei do percurso, estou contente, é uma situação nova eu ser suplente. Eu soube ontem à noite da substituição, acho que foi um presente que nos deram. Fiquei surpreso e, ao mesmo tempo, contente por saltar em Paris e ajudar a equipe", disse Ruyzinho, que também abordou as próximas metas.
"Talvez em outubro eu vá competir no 5 estrelas em Pau, na França. Mas já estou pensando em Aachen. Acho que o meu cavalo, hoje com 12 anos, estará em uma idade boa e é o que podemos programar para os próximos dois anos. Agora ter um pouco de paciência, calma e quem sabe entrar em um cinco estrelas. A preparação para Olimpíada é muito difícil, o cavalo chega aqui para não fazer nada e não entende muito o que está acontecendo.
Ruy Fonseca com BallyPatrick SRA (Luis Ruas / CBH)
Ruyzinho também destacou o desempenho de Rafael, o caçula da equipe. "A gente conhece ele das raízes, hipismo rural, a mesma de todos nós. Acho que a gente gostaria de ter mais Rafael Losanos. Aonde estão mais Rafael Losanos? Pergunta para todos nós, professores de escola, comunidade do hipismo completo, CBH e organizadores. Seria bom fazer as provas no Brasil, incentivar a base para que apareçam mais.”
Michael Jung é dono de cinco medalhas olímpicas: quatro de ouro e uma prata
A Alemanha teve um conjunto eliminado no cross e, dessa vez, não entrou no gride das equipes. Já sua estrela maior, o alemão Michael Jung com Chipmuk FRH, entrou para história como primeiro cavaleiro a arrematar três ouros individuas, além de um por equipes: ouro individual e por equipes em Londres 2012, ouro individual e prata por equipes na Rio 2016 e ouro individual em Paris 2024. O cavaleiro, que ficou em segundo lugar no Adestramento, foi o único a zerar o cross dentro do tempo.
Michael Jung e Chipmunk FRH a caminho do ouro no Hipismo Completo (Luis Ruas / CBH)
"O cross estava inacreditável com tantas pessoas aqui em Versailles, realmente fantástico, torcendo e nos incentivado. Meu cavalo lidou bem com isso. Eu fiquei olhando o relógio e avaliava onde eu poderia diminuir o ritmo", destacou o campeão. "Esse ano só fizemos concursos menores, começamos somente em abril e nosso foco eram mesmo os Jogos Olímpicos. Ficamos apenas no condicionamento, um pouco devagar no começo da temporada. Mas acima de tudo, meu cavalo, que é muito talentoso no adestramento, salto, tão corajoso no cross, facilita tudo para o cavaleiro", agradeceu Michael, que completa 42 anos em 31/7.
Pódio individual
Ouro Michel Jung / Chipmunk FRH - Alemanha - 29,80 pp
Prata Cristopher Burton / Shadow JMan - Austrália - 23,10 pp
Bronze Laura Collet / London 52 - Grã-Bretanha - 25,80 pp
27º Rafael Losano / Withington - Brasil - 46,80 pp
44º Marcio Carvalho Jorge / Castle Howard Casanova - Brasil - 79,70 pp
Equipes
Ouro Grã-Bretanha - 91,30 pp
Prata França - 103,60 pp
Bronze Japão - 115,80 pp
12º Brasil - 214,60 pp
Imprensa CBH ; fotos: Luis Ruas / CBH